sexta-feira, 11 de junho de 2010

Tratando nosso passado

Na edição de maio da revista Pollution Engineering, o título de um dos artigos me chama a atenção: Como tratar 100 anos de poluição? O artigo trata da utilização de instrumentos de análise do meio ambiente FRXP, que são sistemas portáteis de fluorescência de raios X. Embora seja fundamentado em fatos norte-americanos, ele me faz refletir sobre a realidade brasileira.


Ao contrário dos Estados Unidos, que iniciaram um acelerado processo de industrialização em meados do século 19, a industrialização brasileira começou aproximadamente 100 anos depois, em meados do século 20. Não podemos evidentemente culpar unicamente o desenvolvimento industrial pelo aumento da poluição ambiental, mas sem dúvida existe aí uma relação direta com o crescimento dos indicadores.

Por terem iniciado antes o contato com os problemas causados pela poluição, os Estados Unidos apresentam, também neste caso, uma larga vantagem em termos de tecnologia para a resolução de problemas ambientais. Percebo por exemplo que em nossas edições da PE há uma considerável inclusão de anúncios de empresas do exterior, fabricantes de equipamentos de controle ambiental, interessadas em nosso mercado.

E mercado não falta. Parece que estamos bastante ativos em recuperar o tempo perdido. Conforme dados da Cetesb, a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo, a evolução do número de áreas contaminadas cadastradas pelo órgão, saltou de 255 em Maio de 2002 para 2.514 em novembro de 2008. Isto sem considerar casos famosos de contaminação ocorridos antes deste período. Citemos como exemplo o Aterro Mantovani, situado em Santo Antonio da Posse, no estado de São Paulo. Este aterro, iniciado em 1974, foi utilizado durante 20 anos como destino de resíduos industriais altamente contaminantes e é hoje considerado o pior caso de contaminação do Brasil.

Parece que a legislação anda a passos largos para dar suporte a este crescimento de fornecedores nacionais. É o caso da regulamentação da Lei Estadual nº.13.577, de 8 de julho de 2009, que trata da criação do Fundo Estadual para Remediação de Áreas Contaminadas (Feprac). Os recursos do Feprac, provenientes de receitas oficiais e multas, deverão ser utilizados para financiar o gerenciamento e a recuperação de áreas contaminadas.
Creio que podemos ter em um futuro próximo o resultado da evolução de empresas brasileiras dedicadas a atender este mercado, estampados em anúncios e artigos desta revista. PE

Udo Fiorini, editor da revista Pollution Engineering