quarta-feira, 6 de abril de 2011

Resíduos tóxicos e perigosos - as lições

O conhecimento científico sobre os efeitos tóxicos das substâncias químicas produzidas após a Segunda Grande Guerra ainda é muito limitado.

A indústria química sempre foi vista com desconfiança pela sociedade. Além disso, os maiores acidentes ambientais ocorridos até hoje são oriundos das indústrias químicas e petroquímicas. Nesse setor, o perigo é constante e, com o passar do tempo, a percepção do risco diminui e acaba se tornando rotina.

Em virtude da desconfiança que a população e as autoridades têm em relação às atividades e produtos das indústrias químicas, na década de sessenta, as multinacionais desse setor, como, por exemplo, a CIBA, desenvolveram técnicas visando à identificação, o controle e o gerenciamento dos riscos industriais, tendo obtido sucesso na maioria dos casos.

Apesar do limitado conhecimento científico existente sobre os efeitos tóxicos e danos que as substâncias químicas fabricadas após a Segunda Grande Guerra causam ao organismo, poucas empresas adotaram postura conservadora e políticas de prevenção. Na sua grande maioria, as indústrias químicas continuaram realizando as práticas antigas, como, por exemplo, o depósito de resíduos provenientes da produção e dos laboratórios de controle da qualidade no fundo do terreno da fábrica sem a menor preocupação com os trabalhadores, os vizinhos e o meio ambiente.

Com a conscientização global sobre as questões ambientais e o avanço da ciência, descobriu-se que os resíduos industriais enterrados no solo das fábricas causam graves lesões nas células e deformações congênitas, podendo levar os organismos à morte em curto prazo de tempo. O composto DDT (Dicloro Difenil Tricloroetano), por exemplo, inicialmente foi empregado no controle da malária e do tifo das tropas e da população durante a Segunda Guerra Mundial, e posteriormente foi utilizado como inseticida em larga escala na agricultura. Em 1980, quarenta anos depois de ter sido sintetizado pelo químico suíço Paul Muller, ganhador do Prêmio Nobel de Medicina de 1948, o DDT foi banido em todos os países, porque origina câncer nas células. Estima-se que na atualidade ainda existam 400 mil t. de DDT dispersas no meio ambiente.

No primeiro colóquio sobre a saúde humana e o problema da aplicação de pesticidas, realizado no mês de setembro do ano de 1976 na Faculdade de Farmácia de Marselha, foi apresentado um estudo científico citado que haviam sido encontrados vinte e seis diferentes pesticidas em legumes, vinte e nove nos frutos, vinte e um nos citrinos e seis nos cerais. A partir de 01 de janeiro de 1997, a Comunidade Europeia decidiu proibir nove corantes que eram utilizados nas confeitarias, nos cremes gelados e doces. Descobriu-se que o metilpropenil do cacau reforça o efeito tóxico do amaranto vermelho dos doces de cereja.

Todos aqueles que conservam um pouco de memória recordam de eventos tais como: SEVESO - Itália, Bhopal - Índia, Minamata - Japão, Exxon Valdez - Alasca, Chernobyl - Rússia, e outros lamentáveis eventos acidentais com produtos químicos, que apesar de tóxicos e perigosos são necessários na fabricação de produtos e bens de consumo visando à melhoria da qualidade de vida da população, como, por exemplo, os fármacos, combustíveis e alimentos.

Segundo Houaiss, tóxico é um composto que produz efeitos nocivos ao organismo, podendo se encontrar no estado líquido, gasoso ou sólido. A toxidez de um composto é determinada pelo quociente da quantidade de uma substância necessária para matar um animal pelo peso deste expresso em quilogramas, indicada na prática pela concentração (CL50) ou dose letal (DL50), e, o IDHL – Immediately Dangerous to Life or Health. Observa-se que à medida que diminui o valor da concentração tóxica aumenta a toxidez do composto. Os valores das concentrações tóxicas de referência das substâncias se encontram descritas nas Fichas de Informações de Segurança de Produtos Químicos – FISQS.

Para avaliar o poder tóxico de um composto, além da concentração de referência, utilizam-se as propriedades físico-químicas, tais como estrutura e a polaridade das moléculas, o ponto de ebulição normal, a solubilidade em água e álcool e os coeficientes de distribuição KB e Kow. O coeficiente Kow indica a capacidade do composto de acumular nos sedimentos, no solo e nos tecidos de gordura da biota. Enquanto o coeficiente KB indica a capacidade de bioacumulação, que representa o quociente das concentrações do composto na água e na biota.

Atualmente existem 15 milhões de substâncias registradas no Chemical Abstract Services - CAS e, aproximadamente três mil destes são produzidos em larga escala, acima de 500 mil kg/ano. Desse total, menos de 45% foram submetidos a algum teste ou ensaio toxicológico, e menos de 10% foram investigados quanto aos possíveis efeitos tóxicos sobre o organismo.

A partir dos fatos descritos verifica-se que a toxicidade de um composto químico depende das propriedades moleculares e do meio em que se encontra, portanto a toxidez de um produto ou de um resíduo industrial deverá ser avaliada considerando, além dos padrões de referência, outros parâmetros. Os compostos considerados tóxicos se encontram presentes em todos os lugares e materiais, inclusive nos alimentos, portanto, não são produtos exclusivos da indústria química. E, apesar do conhecimento desenvolvido até o momento, continuamos sendo contaminados pelas substâncias que elaboramos nos últimos cem anos. PE
 
Georges Kaskantzis Neto

Doutor e Mestre na área de engenharia química pela UNICAMP. Engenheiro químico pela UFPR. Coordenador gestão ambiental por Deutsche Gesellschaft für Qualität, Alemanha. Presidente comitê de pesquisa - UFPR. Coordenador do curso de engenharia de bioprocessos e biotecnologia. Consultor do INEP - MEC, secretaria de educação do Paraná, Fundação Araucária, FAPESC, FAPEMIG, Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Betim, Secretaria de Estado de Meio Ambiente do Paraná. Professor associado UFPR.

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